Spotify afirma pagar melhor, mas artistas continuam insatisfeitos

Spotify afirma pagar melhor, mas artistas continuam insatisfeitos

Aplicativos

O Spotify divulgou mais um de seus relatórios anuais Loud & Clear, tentando convencer o mundo de que seus pagamentos estão mais generosos do que nunca. A empresa revelou que distribuiu US$ 10 bilhões para a indústria musical em 2024, tentando dissipar a velha acusação de que artistas recebem quantias irrisórias por seus trabalhos. Mas será que os músicos realmente saíram ganhando?

Um aumento que não convence

Segundo o relatório, um artista que alcançou um milhão de streams no Spotify em 2024 recebeu em média mais de US$ 10.000, um crescimento de 10 vezes em relação a uma década atrás. Soa impressionante, certo? O problema é que, apesar do aumento, muitos artistas e compositores continuam lutando para ganhar um valor justo pelo seu trabalho.

A insatisfação é tão grande que, recentemente, vários compositores indicados ao Grammy boicotaram a categoria de Compositor do Ano no Spotify. O motivo? A plataforma implementou mudanças que, segundo estimativas da Billboard, levaram à perda de US$ 150 milhões em royalties para os escritores de músicas ao longo de 12 meses.

Comparação com concorrentes

Para piorar a situação do Spotify, um relatório da Duetti revelou que Apple Music, Amazon Music e YouTube pagam significativamente mais aos artistas. Enquanto o Spotify pagava US$ 3,0 a cada 1.000 streams, o Apple Music pagava US$ 8,8, o Amazon Music US$ 6,2 e o YouTube US$ 4,8. Em outras palavras, o Spotify paga menos da metade do que seu principal concorrente.

Quando questionado sobre essas discrepâncias, o Spotify recorreu à clássica estratégia corporativa de negação. A empresa classificou as alegações como “ridículas e infundadas”, argumentando que “nenhum serviço de streaming paga por stream individual”. Mas se ninguém paga por stream, por que os artistas recebem valores tão diferentes em cada plataforma?

O modelo de pagamento do Spotify

O relatório detalha como os artistas são remunerados na plataforma. O modelo de pagamento é baseado no StreamShare, um cálculo que distribui royalties proporcionalmente ao número de reproduções. Por exemplo, se um artista representa 1% do total de streams, ele receberá 1% do valor total pago pela plataforma. O problema? Esse modelo favorece majoritariamente os artistas de grande porte e prejudica aqueles que estão começando.

A União de Músicos e Trabalhadores Aliados (UMAW) tem sido uma das vozes mais ativas contra essa estrutura, exigindo uma compensação mais justa para os músicos independentes. Inclusive, a organização defende um projeto de lei chamado Living Wage for Musicians Act, que propõe um pagamento de pelo menos US$ 0,01 por stream.

Segundo a UMAW, a razão para a baixa remuneração é simples: o Spotify não paga diretamente os artistas. “A empresa alega que sua forma de operação não se encaixa nas regras que obrigam o pagamento direto aos músicos, como acontece com o rádio via satélite e outras plataformas digitais”, destacou um porta-voz da organização.

Números otimistas, mas pouco convincentes

O Spotify tenta sustentar sua narrativa de “pagamos melhor” apresentando números que mostram um aumento nos royalties ao longo da última década:

  • O número de artistas que geram royalties triplicou desde 2017;
  • Em 2014, o top 10.000 artistas do Spotify ganhavam cerca de US$ 34.000 por ano; em 2024, esse valor subiu para US$ 131.000;
  • O top 100.000 artistas passou de ganhos de US$ 600 em 2014 para quase US$ 6.000 em 2024;
  • 1.500 artistas faturaram mais de US$ 1 milhão só com royalties do Spotify no ano passado;
  • Artistas que receberam US$ 100.000 ou mais gravaram músicas em mais de 50 idiomas, enquanto aqueles que passaram de US$ 1 milhão cantaram em 17 idiomas diferentes.

A questão é: quantos artistas realmente fazem parte desse grupo seleto? A maioria dos músicos independentes continua a receber centavos por milhares de streams, enquanto o Spotify exibe estatísticas que beneficiam apenas uma pequena elite musical.

Conclusão

O Spotify quer convencer o mundo de que sua estrutura de pagamentos é mais justa do que nunca. Mas enquanto compositores boicotam prêmios, relatórios apontam concorrentes pagando melhor e músicos independentes continuam sem receber um valor digno, fica difícil acreditar na narrativa da plataforma. O aumento nos pagamentos pode ser real, mas a desigualdade entre artistas famosos e independentes continua gritante. O discurso de “pagamos mais” pode soar bem em relatórios corporativos, mas para os artistas que dependem do streaming para sobreviver, a realidade ainda está longe de ser justa.

O Spotify realmente aumentou os pagamentos aos artistas?

Sim, os valores cresceram ao longo dos anos, mas a distribuição ainda favorece os grandes artistas, deixando músicos independentes com quantias mínimas.

Por que os artistas reclamam dos royalties do Spotify?

Porque, em comparação com outras plataformas, o Spotify paga menos por stream e utiliza um modelo de remuneração que dificulta o crescimento de músicos menores.

Como o Spotify calcula os pagamentos aos artistas?

A empresa usa o sistema StreamShare, que distribui os royalties proporcionalmente ao total de reproduções na plataforma.

O Spotify paga diretamente aos artistas?

Não. O pagamento passa por gravadoras e distribuidores, o que reduz ainda mais os ganhos dos músicos.

Apple Music e outras plataformas pagam melhor que o Spotify?

Sim. Segundo relatórios, a Apple Music paga mais do que o dobro por stream em comparação ao Spotify.

Existe algum projeto para melhorar os royalties dos artistas?

Sim. A UMAW defende a proposta Living Wage for Musicians Act, que busca garantir pelo menos US$ 0,01 por stream.

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